Semana da Fashion Revolution – após 7 anos o que mudou?
Moda

17 Abril 2020

Semana da Fashion Revolution – após 7 anos o que mudou?

Semana da Fashion Revolution – após 7 anos o que mudou?

A semana que vem é dedicada à Fashion Revolution, um movimento iniciado por um desastre terrível. Em 2013, o Rana Plaza, uma fábrica de vestuário no Bangladesh colapsou. Após 7 anos, o que mudou?

Enquanto enfrentamos uma pandemia global, é necessário lembrar as partes do mundo que mais vão sofrer. As pessoas que são menos privilegiadas precisam da nossa ajuda. Aqui podem encontrar formas fáceis de ajudar, graças à Fashion Revolution. Um click pode mudar uma vida, e todos temos o poder para o fazer.

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24 de abril, há 7 anos atrás numa terra distante

As regras de segurança não foram seguidas e os trabalhadores foram forçados a trabalhar num edifício no qual não se sentiam seguros. A maior parte desses trabalhadores eram crianças e mulheres que sofriam de assédio e violência no trabalho. Apesar de trabalharem muitas horas, estes trabalhadores não recebiam o suficiente para viverem com dignidade, um cenário inimaginável no mundo ocidental.

Demorou menos de um minuto. 1134 pessoas morreram e mais de 2000 mil ficaram feridas. Seres humanos como nós. Viviam com medo num mundo sem justiça.

Depois do colapso do Rana Plaza começou uma revolução. Os trabalhadores exigiam melhores condições de trabalho e a indústria da fast fashion encontrava-se vulnerável. Finalmente o impacto social das sweatshops era assunto em todo o mundo. Alguma coisa tinha de mudar.

Para lutar pelas vidas dos trabalhadores silenciados que mantinham a indústria da fast fashion um negócio super lucrativo, Carry Somers e Orsola de Castro fundaram a organização sem fins lucrativos Fashion Revolution.

Em 2018 , Orsola de Castro dizia

“Ainda estamos muito longe mas a indústria está a começar a aperceber-se que o futuro do negócio passa por sistemas que não sejam prejudiciais para o ambiente e que não dependam da exploração humana para crescerem financeiramente”.

7 anos depois o que mudou?

Logo após o desastre foram criados acordos vinculativos legais. Esses acordos incitavam as empresas ocidentais de fast fashion a trabalharem apenas com fábricas que privilegiassem a segurança dos seus trabalhadores.

O acordo para a segurança dos edifícios e contra incêndios no Bangladesh foi assinada maioritariamente por marcas europeias com H&MHugo Boss e Primark. A Aliança pela Segurança dos Trabalhadores do Bangladesh, foi menos exigente e assinada maioritariamente por empresas Norte-Americanas como a GAP e a Target.

Ambos os acordos durariam cinco anos, de 2013 a 2018. Cerca de 220 companhias assinaram o acordo.

A pressão dos clientes ocidentais forçou milhares de donos de fábricas a tornar os seus locais de trabalho mais seguros. O que se traduziu em investimentos em portas corta-fogo, sistemas de aspersão, melhorias na eletricidade e fundações mais resistentes, eliminando mais de 97,000 perigos de segurança em edifícios identificados e expostos pelo acordo.

Contudo, ficaram de fora tanto do Acordo como da Aliança mais de 1500 fábricas que não se encontram sob nenhum escrutínio especial.

Apesar de tudo parecer definitivamente melhor para os trabalhadores do vestuário, em 2018, com o fim dos dois acordos e a pressão crescente por parte da Associação dos Fabricantes e Exportadores de vestuário do Bangladesh (uma organização privada com ligações ao governo), o futuro é incerto.

Esta Associação criou o Ready Made Garments Sustainability Council, apoiada pelo governo do Bangladesh, com o propósito de substituir os dois acordos de 2013.

É de salientar que os acordos foram renovados até 2021, contudo, nem todas as marcas ocidentais que os assinaram a primeira vez assinaram a renovação de três anos.

O problema com o novo conselho é que as marcas e os donos das fábricas deixam de estar obrigados legalmente a certificar-se da segurança dos seus trabalhadores.

Christie Miedema, porta-voz da Clean Clothes Campaign diz,

“O Acordo foi e é um sucesso pela sua natureza vinculativa, pela sua executabilidade, transparência, pelo seu poderoso mecanismo de reclamações, pela distribuição igualitária de poder entre marcas e trabalhadores e pelo poder e imparcialidade das suas inspeções”.


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Aumento dos ordenados

Se trabalhar em condições desumanas não era trágico o suficiente, lembrem-se que estes trabalhadores nem sequer recebem o suficiente para pagar as contas mais básicas.
O facto do ordenado mínimo no Bangladesh ser tão baixo, permitiu que as marcas Ocidentais alcançassem margens de lucro incríveis.

Em 2014, o ordenado mínimo foi aumentado para 65$ por mês. No entanto, devido à inflação isso representa uma descida de 6.47 por cento no ordenado dos trabalhadores desde 2013.
De acordo com Expatistan, um website que compara o custo de vida de diferentes cidades, um apartamento de 45m2 mobilidado, numa zona normal, custa em média 225$.
De facto estes números não batem certo. É por isso que os líderes dos sindicatos defendem que o ordenado mínimo deveria ser pelo menos o triplo do que foi aprovado.
De acordo com a análise de Sasja Beslik, que está à frente da equipa das finanças sustentáveis no Nordea Wealth Management, tal poderia ser alcançado por marcas como H&M, se estas subissem o valor das suas t-shirts em 12 a 25 cêntimos.

Bem, tudo isto é inacreditável e levanta a questão:

Como é que marcas ocidentais que fazem tanto lucro se recusam a fazer mudanças tão pequenas que poderiam ter um impacto tão positivo em tantas vidas?

Scott Nova, the Workers’ Rights Consortium Executive Director escreveu em 2011 que,

“Esta é a contradição no coração da indústria de vestuário contemporânea. As marcas e os re-vendedores afirmam que querem eliminar as condições das sweatshops, mas exigem preços tão baixos que a única forma destas fábricas continuarem a funcionar é continuando a abusar dos seus trabalhadores.”

Carry Sommers, da Fashion Revolution enfatiza que as melhorias resultantes da luta pela transparência são inegáveis. Sommers relembra que em 2018, 1300 fábricas foram inspecionadas, e 800 foram melhoradas. No entanto, relembra igualmente que no mesmo ano ocorreram mais de 300 acidentes em fábricas e 426 trabalhadores perderam a vida enquanto produziam roupa.

Em 2019 um relatório da Accord declarava que:

“As fábricas inspecionadas melhoraram apenas a um ritmo de 2%, comparado com 6% em 2018, 9% em 2017 e 22% em 2016. Um total de 1,101 fábricas ainda não alterou as suas condições, e 45% ainda não apresenta sistemas adequados de detecção de incêndios.”

Como podem ver estamos num ponto perigoso. Neste momento, o risco de perder todas as medidas de segurança que foram alcançadas desde o desastre de Rana, é bastante real.


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Uma das razões é o facto da Fast Fashion estar a tentar tirar o foco da segurança dos trabalhadores, enquanto favorece a sustentabilidade. Apresentam-se assim, como sustentáveis, com as estatísticas certas.

Tal promove uma imagem distorcida da fast fashion aos olhos do público. É chamada Greenwashing no seu pior, e a razão pela qual, apesar de tudo o que foi alcançado, a luta por condições de trabalho e verdadeira sustentabilidade está longe do fim.

É essencial que continuemos a exigir que as nossas marcas favoritas parem de explorar países mais pobres, assim como os recursos do nosso planeta. Felizmente existem várias marcas incríveis que são éticas e sustentáveis.

Devido a tudo o que se tem passado, este ano a Fashion Revolution vai ser celebrada online. Aqui podem encontrar o calendário de eventos e participar todos os dias até ao dia 26. Juntos podemos construir um mundo melhor, onde somos todos tratados de igual forma.

Um dia de cada vez vamos conseguir. Não importa quão difícil possa parecer, juntos podemos alcançá-lo.

Tenham um dia incrível,
NAE

Se estiverem interessados aqui estão as nossas referências:

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